sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Empresário espanhol fica fora da gestão da nova Agre

Valor, Silvia Fregoni, 16/out

A construtora Agre, resultante da fusão de Agra, Abyara e Klabin Segall, saiu ontem oficialmente do papel. Os acionistas das três companhias, todas de capital aberto, aprovaram em assembleias a incorporação das ações e a formação da nova empresa.

Também aconteceu ontem a primeira assembleia da recém-criada Agre, durante a qual se constituiu a diretoria executiva e o conselho de administração da empresa. O megainvestidor espanhol Enrique Bañuelos, dono da Veremonte, maior acionista da Agre, com 30% do capital, ficará fora da gestão da nova companhia.

O espanhol também não votará nas decisões da Agre. Isso porque transferiu o direito de voto a Luiz Roberto Horst, eleito presidente executivo e presidente do conselho de administração da nova empresa. Apesar do grande peso no capital da Agre, Bañuelos será um "investidor passivo", segundo definiu Horst, já que não pediu assento nem na diretoria nem no conselho de administração. Em documento, Bañuelos se compromete, em caráter irrevogável, a transferir para Horst o direito de voto das ações pertencentes direta ou indiretamente a ele. "Não se trata de um acordo de representação da Veremonte, mas de autonomia de gestão", explicou Horst ao Valor.

A relação entre a Veremonte e Luiz Roberto Horst, fundador da Agra, não é de hoje. A empresa de Bañuelos escolheu o executivo como o sócio local para a condução dos negócios no Brasil. A criação da Agre acontece depois de um longo processo de renegociação das dívidas tanto da Abyara, quanto da Klabin Segall. Bañuelos chegou ao Brasil no auge da crise global, quando começou a sondar as empresas em dificuldades e apresentar o seu projeto de consolidação. Partiu para as aquisições no início deste ano - sempre tendo a Agra como parceira. Desembolsou menos de R$ 150 milhões na compra da Klabin Segall e da Abyara.

Depois do investidor espanhol, o maior acionista da nova companhia é o grupo composto pelos fundadores da Agra. Com 15% do capital da Agre, o grupo tem como integrantes Horst, Ricardo Setton, Astério Vaz Safatle e Fernando Bruno Albuquerque, que formarão o conselho de administração da nova empresa, ao lado dos conselheiros independentes Bento de Camargo Barros Neto e Maílson da Nóbrega. A maior parte das ações está no mercado.

Não haverá um acordo de acionistas entre a Veremonte e o grupo originado da Agra. O único documento existente é o de Bañuelos abrindo mão da gestão e transferindo o direito de voto.

"Como a posição de Enrique Bañuelos é de investidor, ele não pretende ficar preso à empresa por meio de acordo de acionistas, pois quer ter liberdade para vender e comprar ações", destaca Setton. O espanhol tem investimentos em vários países do mundo e "deseja ficar menos de uma semana por mês no Brasil", segundo Setton.

A Agre nasce como uma das maiores empresas do setor de construção brasileiro. O valor de mercado é de R$ 2,5 bilhões, não muito distante das concorrentes Rossi Residencial (R$ 3,6 bilhões) e Gafisa (capitalização de R$ 3,9 bilhões). A Cyrela é a maior disparado, com R$ 10,1 bilhões.

O patrimônio líquido da nova empresa é de R$ 1,8 bilhão, acima de Rossi (R$ 1,3 bilhão) e Gafisa (R$ 1,7 bilhão). A Cyrela tem patrimônio de R$ 2,4 bilhões. Mas o resultado líquido ainda reflete uma empresa que enfrentou dificuldades financeiras. Os dados levam em consideração os números do segundo trimestre do ano.

O banco de terrenos é de R$ 19 bilhões, de acordo com Horst. A dívida bruta está em R$ 1,2 bilhão e a líquida, em R$ 550 milhões, o que significa que a empresa tem em caixa R$ 650 milhões. "Nossa situação financeira é suficiente para os planos de expansão no próximo ano", afirma o presidente.

E os projetos são otimistas. A Agre pretende lançar entre R$ 2,3 bilhões e R$ 2,7 bilhões em empreendimentos em 2010. Os lançamentos deste ano devem ficar entre R$ 1,1 bilhão e R$ 1,4 bilhão, originados basicamente de Agra, já que Abyara e Klabin Segall estavam envolvidas na solução dos problemas financeiros. "Apenas no ano que vem as operações de Abyara e Klabin devem começar a contribuir para os resultados da Agre", diz Setton. O potencial da empresa é maior, dado que, em 2008, antes do agravamento da crise mundial, as três empresas juntas lançaram R$ 3,1 bilhões.

Os próximos meses da Agre serão destinados à integração das operações das três empresas. "Até o fim do ano queremos ver tudo integrado", ressaltou Setton.

Na união das operações, provavelmente as marcas vão desaparecer. "O martelo ainda não está batido, mas é bem provável que fiquem apenas as marcas Agre e ASA, esta última voltada ao segmento econômico", afirmou. Dos lançamentos planejados para 2010, entre 20% e 25% deverão ser do segmento econômico. Há uma consultoria cuidando da questão das marcas, cujos trabalhos ainda não foram finalizados.

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