sábado, 5 de dezembro de 2009

Armínio Fraga vê "máquina de bolhas" na economia global

NOVA YORK, 4 de dezembro (Reuters) -

A "máquina de bolhas" da economia mundial continua funcionando enquanto os formuladores de política econômica lutam contra a recessão com políticas fiscais e monetárias fáceis, disse o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, na quinta-feira.

Fraga, que também é presidente do conselho da BM&F Bovespa, acrescentou que as preocupações sobre a sustentabilidade da política fiscal em países desenvolvidos precisam ser administradas para evitar crises futuras.

Ele disse que os juros em recorde de baixa em muitos países desenvolvidos também estão ajudando a criar um excesso de liquidez para as economias emergentes que não foram tão afetadas pela crise.

"De muitas formas ainda temos uma máquinas de bolhas. Estamos tratando uma bolha com uma bolha", disse ele a jornalistas em Nova York antes de uma reunião do G30.

Fraga defendeu a estratégia do governo brasileiro de combater a recessão com gasto público, mas acrescentou que agora que a economia está se recuperando pode ser o momento de a política fiscal "tirar o pé do acelerador".

Isso abriria espaço para o banco central reduzir mais o juro, segundo ele, e "seria uma forma muito eficiente de conter a apreciação do real".

O real se valorizou em mais de 30 por cento até agora neste ano, ameaçando exportadores, apesar de medidas do governo para conter fluxos "especulativos" externos.
Filme sobre pai de Eike põe o dedo na ferida da Vale
Documentário Eliezer Batista - O Engenheiro do Brasil traz bastidores importantes sobre a privatização da Vale e ainda ajuda a mapear o DNA do bilionário Eike Batista

Exame - Por João Sandrini | 03.12.2009 | 08h58

Esqueça Lua Nova, 2012 ou qualquer outro blockbuster em cartaz. Para quem se interessa por economia e negócios, o filme mais interessante nos cinemas é Eliezer Batista - O Engenheiro do Brasil. É verdade que a fita, vista por apenas 350 pessoas no final de semana passado, o primeiro de exibição, comete boa parte dos pecados capazes de estragar qualquer documentário. A produção foi paga pelas empresas interessadas na divulgação da história. Os depoimentos de amigos são óbvios e excessivamente elogiosos. A própria família se encarrega de contar boa parte do enredo. A narração dos acontecimentos é feita de uma maneira quadradona.

Mas cabe ao próprio Eliezer salvar o filme e justificar o dinheiro do ingresso. O empresário, pai de Eike Batista, foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento do Brasil no século passado. Como presidente da Vale na década de 60, desenvolveu o plano logístico que o possibilitou ao Brasil tornar-se um grande exportador de minério de ferro ao Japão - apesar de a distância percorrida pelo produto nacional ser sete vezes maior do que a do minério dos concorrentes australianos.

Como engenheiro, teve participação decisiva na construção da Estrada de Ferro Vitória-Minas, do porto de Tubarão (ES), da ferrovia entre a mina de Carajás (PA) e o porto de São Luís (MA) e do porto de Sepetiba (RJ). Em um país tão carente em infraestrutura, apenas essas obras já seriam suficientes para comprovar sua capacidade de realização. Mas Eliezer também ajudou na criação da Aracruz, que no início de 2009 se uniu à VCP para formar a maior empresa de celulose do mundo, e foi ministro nos governos - mal-sucedidos - de João Goulart (1961-64) e Fernando Collor de Mello (1990-92).

Além do papel de protagonista na formação econômica do país, Eliezer mostra, na fita, características humanas bastante raras no meio empresarial. Sempre bem-humorado, apresenta uma enorme capacidade de rir da vida e divertir aos próximos. Ao mesmo tempo, revela, em alguns de seus depoimentos, sensibilidade suficiente para emocionar os corações mais capitalistas.

Conhecer o personagem também ajuda a mapear o DNA de Eike Batista. Dono da conta corrente mais gorda do país, o bilionário é hoje capaz de reunir investidores para seus projetos como nenhum outro manda-chuva do mercado financeiro brasileiro. Obviamente muitos dos conhecimentos técnicos sobre mineração e logística que o ajudaram a construir seu império foram herdados do pai. Ao longo dos 84 minutos do filme, também fica claro que Eliezer transmitiu ao filho ensinamentos importantes sobre a gestão e o financiamento de projetos - os próprios espectadores podem tirar da fita ensinamentos para suas carreiras.

O ponto mais alto do filme, no entanto, é a discussão sobre a privatização da Vale. Apesar de ter a mineradora como um de seus patrocinadores e de contar com depoimentos bastante elogiosos do presidente da empresa, Roger Agnelli, o documentário não deixou de colocar o dedo nessa ferida - que ainda não cicatrizou totalmente 12 anos após o leilão. Assim como já havia declarado Eike em entrevistas recentes, Eliezer também defende que a Vale, além de buscar o lucro, sirva de instrumento para o desenvolvimento do Brasil. Mas ele vai além e não esconde sua convicção de que a decisão do governo Fernando Henrique Cardoso de vender a mineradora teria sido equivocada.

Em uma reunião com o então presidente antes da privatização, Raphael de Almeida Magalhães, amigo de Eliezer, diz ter aconselhado FHC a desistir porque a Vale poderia ser o instrumento do governo para resolver os problemas de logística do país. Com a geração de caixa da mina de Carajás, a maior do mundo, com capacidade de produção de 100 milhões de toneladas de minério ao ano, a Vale, poderia viabilizar a construção das obras necessárias para reduzir o custo Brasil. Segundo Magalhães, FHC teria levado adiante o plano de leiloar a mineradora com a justificativa de que era necessário convencer os investidores da seriedade de seu programa de privatizações.

É óbvio que vender um bem estatal tão valioso quanto a Vale. apenas por uma questão de credibilidade seria estupidez. FHC não comenta diretamente a afirmação. Diz apenas que tomou a decisão mais adequada para o Brasil naquele momento e descarta a precipitação nas privatizações, citando empresas que se mantiveram sob o controle estatal em seu governo. "Poderíamos ter privatizado a Petrobras, mas eu não permiti que isso acontecesse."

De qualquer forma, quem assiste ao filme sai do cinema com a convicção sobre a necessidade de diminuir a presença do Estado na economia um pouco abalada. O controle da Vale foi vendido por 3,33 bilhões de reais - um preço ínfimo sob qualquer ângulo de análise. Hoje o lucro da mineradora em apenas três meses costuma ser superior ao valor desembolsado pelo consórcio formado por BNDES, fundos de pensão, CSN, Opportunity e NationsBank para arrematá-la.

No entanto, é impossível afirmar que, sob a tutela estatal, a Vale teria resultados próximos aos apresentados atualmente. Privatizada, a mineradora cresceu exponencialmente, gerou riquezas, contratou funcionários e passou a pagar muito mais impostos. Há quem defenda, principalmente na esquerda mais radical, que o governo poderia ter colhido os mesmos frutos.

Mas basta olhar para a Eletrobrás para entender que uma posição de liderança e ativos valiosos não são suficientes para transformar uma estatal em um colosso. Nas mãos do Estado, a maior empresa de energia do Brasil dá exemplos de má governança, retém o pagamento de dividendos aos acionistas, chega a dar prejuízo em alguns trimestres e, vez por outra, deixa milhões de brasileiros sem luz por não resolver problemas que poderiam ser evitados.

Não é possível voltar ao passado, cancelar o leilão de privatização da Vale, acelerar de novo o tempo e saber o que aconteceria. Líquido e certo é que hoje milhões de brasileiros podem lucrar com as riquezas produzidas pela Vale via mercado de capitais, comprando ações da mineradora. Enquanto isso, em empresas como a Eletrobrás, quem mais ganha são alguns caciques políticos e seus apadrinhados.
A MÃE DE TODAS AS BOLHAS?
Ouro, petróleo, moedas de países emergentes, títulos da dívida iraquiana, apartamentos em Hong Kong -- tudo se valoriza na euforia que toma conta do mercado financeiro mundial

Exame - Por Tiago Lethbridge, de Nova York | 26.11.2009 | 00h01

No início da década, em meio à ressaca causada pela implosão do mercado acionário após o fim da euforia com a internet, um adesivo de carro tornou-se popular nos Estados Unidos -- "Deus, dê-nos mais uma bolha", era a prece de americanos que haviam perdido o dinheiro de suas aposentadorias em ações que acabaram virando pó. Demorou alguns anos, mas, como hoje bem se sabe, as preces foram atendidas (a bolha seguinte se provou muito mais letal do que a anterior, mais uma prova de que é mesmo recomendável ter cuidado com aquilo que se deseja). Após o pânico que devastou o mercado no ano passado, mesmo os mais otimistas viam pela frente anos de vacas magras para os investidores: a inevitável freada econômica jogaria o preço das ações para baixo, e quem quisesse uma nova bolha para compensar a pancada de 2008 teria de rezar dobrado e ter muita paciência. Mas não foi o que aconteceu.

Poucos meses depois da maior crise financeira das últimas décadas, o mercado financeiro mundial já vive um novo período de euforia. Moedas de países emergentes, apartamentos em Hong Kong, petróleo, ouro, ações na Índia, títulos da dívida iraquiana - está tudo se valorizando num ritmo de tirar o fôlego. A nova bolha já chegou?

Poucas perguntas são tão importantes para o futuro da economia mundial. Caso uma bolha esteja realmente em estágios avançados de inchaço, uma nova onda de pânico no mercado financeiro pode arrasar as esperanças de recuperação econômica. Nas últimas semanas, os alertas para os riscos de uma valorização irracional nas bolsas se multiplicaram. O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, e técnicos do Fundo Monetário Internacional alertaram para a possível formação de bolhas, especialmente na Ásia. Bill Gross, fundador da Pimco, um dos maiores fundos de investimento do mundo, fez o mesmo. E, claro, ninguém resumiu melhor esse temor do que Nouriel Roubini, o economista-celebridade, eterno pessimista de plantão, que ganhou status de oráculo ao prever o estouro da bolha anterior. Para ele, a taxa de juro americana, próxima de zero, está dando origem ao chamado "carry-trade", fenômeno em que os investidores tomam emprestado em países com juros baixos e aplicam em outros lugares na busca de retornos maiores. Segundo Roubini, é isso que está acontecendo com o dólar. Assim, enquanto a moeda americana perde valor (está em seu nível mais baixo em 15 meses), os outros ativos atingem níveis pouco ligados à realidade. Roubini apelidou o fenômeno de "mãe de todas as bolhas de ativos". Qualquer solavanco na economia mundial, continua ele, causará uma reversão desse fenômeno, uma súbita valorização do dólar e mais pânico.

Para os pessimistas, a exuberância dos mercados emergentes em 2009 é a principal evidência da suposta irracionalidade do momento atual. A magnitude da recuperação das bolsas desses países realmente impressiona. Segundo a agência de notícias Bloomberg, todas as dez bolsas líderes em valorização no ano são de mercados emergentes. Na Rússia, a alta foi de 134%. No Brasil, o índice Bovespa subiu 138% em dólares. Enquanto o SP 500, índice que reúne as ações das maiores empresas americanas, subiu 27% no ano, o índice MSCI, que reúne os principais mercados emergentes, subiu 65%. Essa valorização é impulsionada por um fluxo de dólares de tirar o fôlego. As bolsas de países emergentes receberam 63 bilhões de dólares no ano, quebrando o recorde de 52,7 bilhões de 2007. No Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), o volume é 50% maior do que o recorde anterior. Outra consequência da enxurrada de dólares é a brutal valorização das moedas desses países. O real é o primeiro da lista: ganhou 26% em relação ao dólar até novembro. Para evitar uma valorização ainda maior, o governo brasileiro vem tentando segurar a onda de dólares com as mãos -- mas a criação de uma taxa de 2% para investimentos estrangeiros, em outubro, não conseguiu reverter o fenômeno. Para o Bank of America Merrill Lynch, o preço justo do dólar é 1,60 real, com ou sem imposto. Outros países decidiram seguir o exemplo brasileiro, numa desesperada tentativa de segurar o câmbio e manter a competitividade de suas exportações. Taiwan foi o primeiro. A Indonésia pode ser o segundo.
A mãe de todas as bolhas?
Ouro, petróleo, moedas de países emergentes, títulos da dívida iraquiana, apartamentos em Hong Kong - tudo se valoriza na euforia que toma conta do mercado financeiro mundial.

(2 de 3)- Exame - Por Tiago Lethbridge, de Nova York | 26.11.2009 | 00h01

Entre os emergentes, nenhum país concentra tantos temores de exuberância irracional quanto a China. Primeiro, porque o país se tornou a locomotiva do crescimento mundial nos últimos dois anos. Uma escorregada chinesa, portanto, causaria convulsões no mundo inteiro. Segundo, porque a China tem todos os pré-requisitos para o nascimento de uma bolha, a começar pelo principal -- crédito farto. Para estimular a economia, o governo criou no ano passado um programa de estímulo orçado em quase 600 bilhões de dólares. Foi um sucesso. A economia chinesa cresceu 9% no terceiro trimestre, um desempenho espantoso num período de letargia no resto do mundo. Esse desempenho se deve a uma injeção de crédito na veia: o volume de empréstimos cresceu 34% de um ano para cá. Diante disso, começaram a surgir temores de que as coisas estão, na verdade, quentes demais.

O economista Paul Krugman, ganhador do Nobel de Economia do ano passado, afirmou recentemente que o excesso de crédito na economia chinesa está inflando não uma, mas diversas bolhas. Dois mercados são os principais focos de preocupação -- a bolsa e o mercado imobiliário. Segundo um estudo do governo, cerca de 20% do dinheiro do programa de estímulo foi parar diretamente no mercado acionário, criando uma alta de quase 80% no ano. Já o volume de casas vendidas cresceu 85% no país em 2009, e o preço subiu 30% em Xangai, centro financeiro do país. Em Hong Kong, o apartamento mais caro da história do país foi vendido por 57 milhões de dólares. Hoje, o preço médio das casas chinesas é equivalente a nove vezes a renda das famílias. No resto do mundo, um múltiplo de quatro vezes já seria suficiente para acender o sinal amarelo.

Apesar dos inegáveis sinais de euforia, ainda é muito cedo para afirmar que existe uma bolha, seja na China, seja em outros mercados emergentes. É preciso, antes de qualquer coisa, colocar a recente valorização em seu devido contexto. A alta das bolsas nos últimos meses foi precedida por quedas ainda maiores no fim de 2008, quando reinava a sensação de que o mundo caminharia para a nova Grande Depressão. A partir de março, quando ficou claro que os bancos americanos voltavam a ganhar dinheiro, os investidores começaram a tirar o dinheiro de debaixo de seus colchões. A valorização generalizada dos últimos meses, portanto, não tem nada de irracional -- é racional mesmo. A cotação do petróleo, que chegou aos 78 dólares após subir mais de 70% no ano, ainda está longe dos quase 150 dólares do ano passado. No caso das ações, a melhor forma de definir se um mercado está ou não hiperaquecido é observar a relação entre o preço das ações e o lucro das empresas. Quanto mais eufórico o investidor, maior é esse múltiplo. Segundo cálculos do banco de investimento Morgan Stanley, o atual múltiplo dos mercados emergentes é de 12,9 vezes o lucro previsto para o ano que vem, exatamente a mesma média dos últimos 16 anos. Com base nessa metodologia, conclui-se que os mercados emergentes não estão caros -- embora também não estejam baratos.
A mãe de todas as bolhas?
Ouro, petróleo, moedas de países emergentes, títulos da dívida iraquiana, apartamentos em Hong Kong -- tudo se valoriza na euforia que toma conta do mercado financeiro mundial.

(3 de 3)- Exame - Por Tiago Lethbridge, de Nova York | 26.11.2009 | 00h01


Uma análise mais detalhada coloca a suposta bolha chinesa em xeque. Os atuais múltiplos da bolsa de Xangai são, realmente, colossais na comparação com os outros países: 24 vezes. Parece muito, mas é pouco se for comparado com a história da própria China. Há dois anos, as ações eram negociadas a um múltiplo de 70 vezes, e a média histórica é de 37 vezes. Finalmente, o mercado imobiliário também não está tão aquecido quanto parece. Apesar da valorização dos últimos trimestres, o índice nacional de preços de casas subiu apenas 2% de um ano para cá, desempenho muito inferior ao ritmo de pelo menos 6% ao ano de 2004 a 2007. Mais uma vez, o que explica a subida atual é a descida em razão da crise do ano passado. "A bolsa e o mercado imobiliário estão se valorizando muito rápido, mas ainda não chegaram ao nível de um ano atrás", diz Andy Rothman, especialista em mercado chinês da corretora CLSA.

Mesmo que a bolha assassina descrita por Roubini e seus seguidores ainda não exista, o risco de que algo parecido com ela ganhe forma nos próximos meses é considerável. Afinal de contas, a política monetária nos países ricos continuará frouxa a perder de vista. O presidente do Fed, Ben Bernanke, já avisou que as taxas de juro nos Estados Unidos continuarão próximas de zero por um longo período. Com a economia americana capengando e o nível de desemprego superando os 10%, essa não é mesmo a melhor hora de mexer nos juros. E as pífias taxas de retorno no maior mercado do mundo serão um poderoso incentivo à busca de alternativas de investimento em outros mercados. Segundo o Instituto de Finanças Internacionais, o fluxo de dólares para mercados emergentes deve passar de 348 para 671 bilhões de dólares em 2010. "Os países emergentes estão liderando a retomada da economia mundial", diz Philip Suttle, economista-chefe do instituto. "O capital, que busca crescimento, está indo para onde tem de ir." Finalmente, os emergentes devem começar a subir seus juros antes dos países ricos, já que a retomada econômica está vindo mais cedo. Isso os tornará ainda mais atraentes para investidores estrangeiros. "O risco de distorções daqui para a frente é real", diz Suttle. A história mostra que a reversão de períodos de euforia tende a ser traumática, e país nenhum quer ser protagonista de um espetáculo desses. O governo chinês, por exemplo, já está diminuindo o nível de estímulo à economia -- o crescimento do crédito deve baixar dos 34% atuais para 20% até o fim do ano. "Para evitar um possível superaquecimento, o governo deve permitir a valorização do yuan já no primeiro semestre de 2010", diz Daniel Tenengauzer, chefe de pesquisa para mercados emergentes do Bank of America Merrill Lynch.

Para o banco central de países ricos, o surgimento de uma nova bolha mundial representa um dilema e tanto. Sob o comando de Alan Greenspan e Ben Bernanke, o Fed lavou as mãos para a bolha imobiliária americana -- para eles, cabia ao mercado julgar se os preços estavam ou não corretos. Não há, até agora, sinais de que o Fed esteja preocupado com o preço dos ativos. Pelo contrário. A queda do dólar e a valorização das bolsas parecem agradar a Bernanke. "Isso tudo ajuda a estimular a economia americana, que é sua grande preocupação", diz o economista Alan Meltzer, o mais renomado estudioso do Fed. Mas o que ele fará caso os preços entrem numa trajetória irracional de alta? Em novembro, Bernanke classificou esse dilema como o maior problema de política monetária desta década. A dúvida, sempre, é: como esvaziar uma bolha sem atrapalhar a recuperação da economia? "A situação da economia global ainda é muito frágil", diz Brad DeLong, professor de economia da Universidade da Califórnia em Berkeley. Apesar do crescimento de 3,5% do último trimestre, ainda sobram dúvidas sobre a forma com que a economia americana reagirá ao fim dos programas de estímulo governamentais. O trauma causado pela queda do castelo de cartas do mercado imobiliário fez com que as bolhas entrassem no centro das preocupações do Fed. Mas tudo indica que Bernanke não vai começar a se preocupar com o surgimento de uma nova bolha até que a economia americana se recupere do estrago causado pela velha.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Programa Minha Casa, Minha Vida não decola


Vânia Cristino - Correio Braziliense




Entre março e novembro foram construídas 176 mil moradias, número baixo frente à meta de edificação de 1 milhão de imóveis

04/12/2009 - A Caixa Econômica Federal emprestou R$ 39,3 bilhões em crédito imobiliário de janeiro a novembro, valor 93% maior do que o volume de crédito contratado no mesmo período do ano passado. Com esse dinheiro foi possível financiar, em todo o país, 756.507 moradias, um recorde. O desempenho da instituição só não foi excepcional no programa Minha Casa, Minha Vida. Lançado pelo governo em março com a meta de construir um milhão de casas até o fim de 2010, o desempenho do programa deixou a desejar. Até 30 de novembro, a Caixa só conseguiu financiar 176.379 unidades, embora o banco garanta que possui propostas para o financiamento de outras 567 mil moradias.

Dividido uniformemente por oito meses, a Caixa conseguiu financiar, mensalmente, 22.047 moradias do programa Minha Casa, Minha Vida. Para chegar a um milhão de unidades, a instituição terá que acelerar o ritmo. Nos treze meses que faltam para o fim de 2010 as contratações mensais terão que triplicar, ficando em torno de 63,4 mil unidades/mês.

O vice-presidente de Governo da Caixa, Jorge Hereda, disse que, com a crise econômica, o banco se viu obrigado a atuar em todos os segmentos, inclusive no financiamento habitacional com recursos da poupança, destinado à classe média. “O desempenho da Caixa reflete uma postura decisiva da instituição de manter as taxas de juros e os prazos de financiamento mesmo no auge da crise internacional”, observou. Com isso, a Caixa, que já tinha cedido espaço para os bancos privados atuarem, voltou a ser responsável por 84% do total de unidades financiadas no país. Em termos de volume de recursos aplicados, a Caixa é responsável por 74% do total disponível no mercado.

A meta do banco, segundo Hereda, é fechar 2009 com empréstimos superiores a R$ 40 bilhões. Só para o programa Minha Casa, Minha Vida, a Caixa recebeu 2.763 propostas dos empresários do setor, para a construção de 567 mil moradias. Desse total, 322.300 unidades têm como público-alvo as famílias com renda de até três salários mínimos; 138 mil de três a seis salários mínimos; e 106,7 mil unidades são voltadas para as famílias com renda entre seis e 10 salários mínimos. Das 176.379 unidades já financiadas, 102.585 imóveis foram para famílias com renda de até três mínimos.

Cerca de 42% dos R$ 39,3 bilhões foram empregados no financiamento habitacional para as famílias com renda de até cinco salários mínimos. O valor médio financiado ficou em R$ 69 mil por família. Os financiamentos com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) alcançaram R$ 14,9 bilhões, um salto de 46% na comparação com o mesmo período de 2008 (R$ 10,2 bilhões). O montante foi suficiente para o atendimento de 245.229 famílias.

Com mais de dois milhões de contratos ativos, a Caixa considera que possui hoje uma carteira de crédito imobiliário jovem. Cerca de 71% do total dos empréstimos está em mãos de mutuários com até 45 anos. Outros 22% do crédito estão com mutuários com até 30 anos de idade. As mulheres são responsáveis por 37% do total da carteira, sendo que 44% delas possuem renda mensal de até três salários mínimos.