sábado, 14 de novembro de 2009

Cadastro desafia administradoras de condomínios

Valor Econômico, 13/nov

O Débito Direto Autorizado (DDA) trará benefícios às administradoras de condomínios e aos clientes, mas há desafios a resolver, avaliam os empresários do ramo. Uma das maiores dificuldades é a atualização do cadastro. O Secovi-SP, sindicato que representa 40 mil empresas do setor imobiliário e de condomínios do estado de São Paulo, estima que a adaptação pode levar de um a dois anos. Para empresas que já trabalham com boletos de cobrança escriturada, aderir ao DDA é relativamente simples, mas alguns ajustes são necessários, como no caso de pagamentos com descontos especiais ou pagamentos depois do vencimento do boleto.

"O centro da questão é anterior ao DDA e está relacionado ao cadastro", diz a gerente de marketing da Lello Condomínios, Angélica Arbex. "Legalmente, o responsável pelo pagamento da cota condominial é o proprietário que consta no registro de imóveis de cada unidade autônoma, mas este é um cadastro dinâmico, pois os imóveis são comercializados e são alteradas as titularidades", explica. A Lello montou uma força-tarefa para atualizar e conferir o cadastro de 65 mil unidades habitacionais na Grande São Paulo, Guarujá e Bertioga. É uma operação complexa, que envolve a verificação dos números de CPF e de outros documentos.

A empresa também está avaliando a prestação de contas. Pelo sistema atual, os condôminos recebem o balancete do mês anterior no mesmo documento em que está o boleto para pagamento da cota do condomínio. Os que optarem pelo DDA vão receber por meio eletrônico apenas o código de barras para pagamento, sem a prestação de contas. "Nós preferimos não abrir mão do envio do boleto físico neste momento, mesmo quando a operação de cadastro tiver sido finalizada", diz Angélica. Ela enfatiza que a opção de pagar as contas pelo DDA não é da administradora, e sim do cliente: "Eu mesma já pago minhas contas pela internet, mas ainda vou esperar uns três meses para estudar melhor o novo sistema".

Cautela também é a postura da administradora de condomínios Art Company, que tem em carteira 4.500 apartamentos e casas. "Vamos esperar 60 dias e primeiro fazer um teste com as empresas do nosso grupo - uma metalúrgica, uma prestadora de serviços em siderurgia e uma banca advocatícia", diz o empresário Ricardo Pereira Ribeiro. Ele está certo de que haverá redução de custos, mas acha que o grande problema do DDA é a cobrança sem registro no banco. Por isso, a empresa não vai abrir mão do boleto em papel. "Fomos informados pelo Itaú de que, mais para a frente, todas as cobranças vão ser realizadas com registro - aí sim, vamos ter certeza que os pagamentos estão sendo feitos".

O vice-presidente de administração imobiliária e condomínios do Secovi-SP, Hubert Gebara, avalia que a adoção do DDA é vantajosa, mas não vai resolver de um dia para o outro o problema da segurança de pagamentos nem eliminar o papel. "A tendência é que todas as empresas deverão se adaptar ao novo sistema, mas a maior dificuldade vai ser a obtenção CPF ou do CNPJ dos nossos clientes", afirma. "Uma empresa de porte médio administra em torno de 400 edifícios, o equivalente a 20 ou 30 mil condôminos. Como conseguir essas informações de maneira rápida? Os que forem aderindo ao DDA têm interesse em fornecer seus dados, mas os que não quiserem, não podem ser obrigados".

Entre as facilidades para os clientes, o vice-presidente do Secovi menciona o pagamento remoto por celular ou notebook e a redução de despesas com correio, quando todos aderirem. Até lá, deverá funcionar um sistema misto, o que, numa primeira etapa, aumenta o trabalho das administradoras e, consequentemente, seu custo operacional. Na avaliação de Gebara, uma das principais confusões das pessoas para entender o DDA é achar que a letra "A" se refere a débito "automático", quando na realidade é débito "autorizado" - o dinheiro só sai da conta quando o titular da mesma autoriza o pagamento.

O novo sistema de pagamentos eletrônicos está abrindo oportunidades na área de tecnologia da informação. É o caso da empresa Nexxera, de Florianópolis, que desenvolveu a plataforma NexxDDA para varredura, captura, apresentação e pagamento de compromissos de pessoas jurídicas. "Criamos uma facilidade para que o credor possa entregar e gerenciar os recebíveis e, ao mesmo tempo, para que o sacado reduza seu custo operacional", diz o diretor Edson Silva. Outra plataforma eletrônica da Nexxera, batizada de "Sem Fila", é voltada para pessoas físicas e tem aplicação indicada em condomínios. O software, distribuído gratuitamente, permite que o usuário pague contas e monitore compromissos pelo celular ou internet. "Acreditamos que a telefonia móvel vai ser uma das grandes alavancas para o DDA", diz Silva.

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