sábado, 5 de dezembro de 2009

A mãe de todas as bolhas?
Ouro, petróleo, moedas de países emergentes, títulos da dívida iraquiana, apartamentos em Hong Kong - tudo se valoriza na euforia que toma conta do mercado financeiro mundial.

(2 de 3)- Exame - Por Tiago Lethbridge, de Nova York | 26.11.2009 | 00h01

Entre os emergentes, nenhum país concentra tantos temores de exuberância irracional quanto a China. Primeiro, porque o país se tornou a locomotiva do crescimento mundial nos últimos dois anos. Uma escorregada chinesa, portanto, causaria convulsões no mundo inteiro. Segundo, porque a China tem todos os pré-requisitos para o nascimento de uma bolha, a começar pelo principal -- crédito farto. Para estimular a economia, o governo criou no ano passado um programa de estímulo orçado em quase 600 bilhões de dólares. Foi um sucesso. A economia chinesa cresceu 9% no terceiro trimestre, um desempenho espantoso num período de letargia no resto do mundo. Esse desempenho se deve a uma injeção de crédito na veia: o volume de empréstimos cresceu 34% de um ano para cá. Diante disso, começaram a surgir temores de que as coisas estão, na verdade, quentes demais.

O economista Paul Krugman, ganhador do Nobel de Economia do ano passado, afirmou recentemente que o excesso de crédito na economia chinesa está inflando não uma, mas diversas bolhas. Dois mercados são os principais focos de preocupação -- a bolsa e o mercado imobiliário. Segundo um estudo do governo, cerca de 20% do dinheiro do programa de estímulo foi parar diretamente no mercado acionário, criando uma alta de quase 80% no ano. Já o volume de casas vendidas cresceu 85% no país em 2009, e o preço subiu 30% em Xangai, centro financeiro do país. Em Hong Kong, o apartamento mais caro da história do país foi vendido por 57 milhões de dólares. Hoje, o preço médio das casas chinesas é equivalente a nove vezes a renda das famílias. No resto do mundo, um múltiplo de quatro vezes já seria suficiente para acender o sinal amarelo.

Apesar dos inegáveis sinais de euforia, ainda é muito cedo para afirmar que existe uma bolha, seja na China, seja em outros mercados emergentes. É preciso, antes de qualquer coisa, colocar a recente valorização em seu devido contexto. A alta das bolsas nos últimos meses foi precedida por quedas ainda maiores no fim de 2008, quando reinava a sensação de que o mundo caminharia para a nova Grande Depressão. A partir de março, quando ficou claro que os bancos americanos voltavam a ganhar dinheiro, os investidores começaram a tirar o dinheiro de debaixo de seus colchões. A valorização generalizada dos últimos meses, portanto, não tem nada de irracional -- é racional mesmo. A cotação do petróleo, que chegou aos 78 dólares após subir mais de 70% no ano, ainda está longe dos quase 150 dólares do ano passado. No caso das ações, a melhor forma de definir se um mercado está ou não hiperaquecido é observar a relação entre o preço das ações e o lucro das empresas. Quanto mais eufórico o investidor, maior é esse múltiplo. Segundo cálculos do banco de investimento Morgan Stanley, o atual múltiplo dos mercados emergentes é de 12,9 vezes o lucro previsto para o ano que vem, exatamente a mesma média dos últimos 16 anos. Com base nessa metodologia, conclui-se que os mercados emergentes não estão caros -- embora também não estejam baratos.

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