segunda-feira, 28 de setembro de 2009

R$ 100 bilhões e emprego de volta
Jornal do Brasil, Natália Pacheco, 27/set


A oferta de crédito para a aquisição de moradias e os programas de Aceleração do Crescimento (PAC) e Minha Casa, Minha Vida - ambos do governo federal - vão garantir investimentos da ordem de R$ 100 bilhões e a criação de mais 800 mil postos de trabalho no setor de construção civil em 2010. Com isso, o número de empregados formais no segmento deve chegar a 3 milhões no próximo ano - marca registrada apenas no início da década de 80, período anterior à estagnação que o setor passou por quase 20 anos.

O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Rio de Janeiro (Sinduscon-RJ), Roberto Kauffmann, detalha a soma dos investimentos: R$ 30 bilhões dos recursos provenientes das cadernetas de poupança, R$ 20 bilhões do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e R$ 50 bilhões do PAC e do Minha Casa, Minha Vida.

O aumento do investimento do setor no próximo ano em relação aos recursos de 2009 é da ordem de 10%, considerando os R$ 90 bilhões que estão sendo investidos neste ano. E a razão da diferença é o programa de habitação do governo. Segundo o executivo, o "grosso do programa" será aprovado no próximo ano.

Enquanto setores chaves da economia estimam que 2009 foi um ano perdido, como a indústria de máquinas e equipamentos, têxtil, siderurgia e mineração, os efeitos da crise financeira internacional na construção civil já foram superados, garante o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), Paulo Safady Simão.

- Atravessamos a crise muito bem. Os 110 mil empregos perdidos no setor entre novembro e dezembro do ano passado já foram recuperados. A construção civil criou mais de 151 mil postos de trabalho no acumulado deste ano, cerca de 25% do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do país - ressaltou Simão.

A previsão do presidente da Cbic é que o setor encerre o ano com queda de 5% em relação aos 8% de 2008, mas com crescimento de 3% quando comparado a 2007.

20 anos de abandono

Apesar do bom resultado nos últimos três anos - o Produto Interno Bruto (PIB) do segmento passou de 4,7% em 2006 para 8% em 2008 - a construção civil ficou cerca de 20 anos estagnada. Desde a extinção do Banco Nacional da Habitação (BNH) em 1986, o setor ficou "abandonado".

- Quando o PIB do setor crescia, caía logo no ano seguinte. Desde 2005, esse processo se reverteu. Prova disso é o número de trabalhadores, que passou de 1,5 milhão, em 2005, para 2,2 milhões até agosto deste ano - disse o diretor-executivo do Sinduscon-RJ, Antônio Carlos Mendes Gomes.

Para o executivo, a decisão do governo em utilizar o setor como um instrumento de combate a crise para gerar emprego, renda e investimento para o país foi acertada, já que é um setor que demanda um número elevado de mão de obra.

- Além do PAC, que é anterior ao colapso econômico mundial, e do Minha Casa, Minha Vida, a construção civil foi beneficiada com a expansão da oferta de crédito para o financiamento imobiliário e a redução da taxa básica de juros (Selic) - explicou Mendes Gomes.

Mas a atenção do governo para a construção civil deve continuar para que o déficit habitacional do país - atualmente de 8 milhões de moradias - seja eliminado nos próximos 15 anos. O diretor de Economia do Sinduscon-SP, Eduardo Zaidan, contou que há um Projeto de Lei no Congresso, que prevê a destinação de 2% de recursos da União e 1% dos estados e municípios para manter investimentos públicos em habitação.

- O Minha Casa, Minha Vida mostrou para o governo a importância de institucionalizar regras para a habitação. Há anos o país necessita de um fluxo financeiro destinado a acelerar os recursos para a baixa renda adquirir um imóvel destacou Zaidan.

Reação

O Índice de Vendas elaborado pela Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) registrou crescimento pelo quarto mês consecutivo do faturamento do mercado interno 1,28% em agosto comparado a julho. A reação do setor se deve em parte às medidas de estímulo anunciadas pelo governo, como a ampliação da validade do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido para materiais até o fim deste ano.

Entretanto, a associação prevê fechar este ano com um resultado 5% inferior ao de 2008. Ainda assim, esta nova previsão representa um crescimento real de 8% em relação a 2007, refletindo uma evolução mais realista do setor no ambiente pós-crise, de acordo com o presidente da Abramat, Melvyn Fox.

- O ano passado foi atípico. O segmento cresceu 14% em 2008. Vínhamos crescendo fortemente, mas a freada a partir do último trimestre, nos levou de volta aos patamares de 2007, mais próximos da realidade - explica Fox.

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