sexta-feira, 29 de maio de 2009

Argentina usa fundos de pensão estatizados para financiar imóveis

Valor Econômico, Eliana Raszewski, 29/mai/09


A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, vai usar dinheiro dos fundos de pensão estatizados para dar financiamento para compra da casa própria a juros baixos e incentivar a construção civil, num esforço de enfrentar a primeira recessão do país desde 2002.

Cristina disse anteontem à noite que o governo argentino vai usar até 5% dos fundos da Administração Nacional de Seguridade Social (Anses) para ajudar os argentinos a comprar ou construir imóveis residenciais nos próximos dois anos. Os empréstimos serão feitos pelo Banco Hipotecario, que é estatal.

"Este é um grande dia para os argentinos. Os fundos de aposentadoria dos nossos trabalhadores serão usados para gerar mais empregos", afirmou Cristina. "A chave da economia é gerar mais e mais empregos bem pagos, para que esses fundos continuem crescendo."

A presidente busca revitalizar a economia por meio do fortalecimento do setor de construção civil. Ela também anunciou planos para incentivar a compra de uma variedade de bens duráveis, de máquinas de lavar roupas a automóveis. Um pacote de incentivo econômico de 13,2 bilhões de pesos argentinos (US$ 3,5 bilhões) foi anunciado em dezembro, seguido por uma iniciativa de 300 milhões de pesos para estimular o turismo.

Eduardo Elsztain, presidente do Banco Hipotecario, disse que a instituição de crédito vai oferecer financiamentos de até 300 mil pesos para a compra de novos imóveis residenciais, a serem pagos em 20 anos. Os empréstimos terão juros baixos, de 10%, disse Elsztain.

A Argentina, segunda maior economia da América do Sul, estatizou em 2008 dez empresas privadas de aposentadoria que tinham cerca de US$ 24 bilhões em ativos, medida descrita por Cristina como um "resgate" para os 9 milhões de argentinos detentores das contas.

Até 30 de abril, o governo havia direcionado cerca de 3% dos 102 bilhões de pesos de poupança da Anses para projetos com o objetivo de incentivar a economia, segundo relatório postado no site do órgão.

"Eles estão usando os nossos fundos, os fundos dos futuros aposentados, para realizar esse investimento", disse Fernando Marengo, economista da Estudio Arriazu & Asociados, de Buenos Aires. "Não está claro se haverá um retorno positivo para nós no futuro."

O número de imóveis residenciais vendidos em Buenos Aires caiu 39% no primeiro trimestre, em relação ao mesmo período de 2008, segundo a Associação de Tabeliões de Buenos Aires. A atividade da construção civil na Argentina recuou 1,3% no primeiro trimestre do ano, em relação ao mesmo período do ano passado, segundo informou o Instituto Nacional de Estatística.

"Esta medida mal vai reativar a construção e não resolve o déficit habitacional da Argentina", disse Marengo. "O governo procura evitar que a economia caia ou que caia mais, mas essa medida não vai mudar nada."

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