O V da virada
Por Luiz Fernando Sá
Em economia, má notícia em geral tem forma. É representada por um gráfico com uma linha descendente, lembrando uma ladeira que despenca até lançar a informação no abismo. Tem-se visto muitos deles nos últimos tempos. Nenhum causou tanta preocupação por aqui quanto aquele que, na semana passada, espelhava o comportamento da produção industrial no Brasil em 2008, medida pelo IBGE. Com o peso do número negativo de dezembro passado, com uma retração de 12%, a reta virtuosa que apontava para cima após sucessivas altas nos primeiros nove meses do ano se vergou, apontando para baixo de forma vertiginosa. Trata-se de uma visão assustadora quando se fixa o olho no eventual desastre e não se enxerga conjuntura e fatos que transcendem o gráfico. A boa notícia, para quem quer ver mais longe, é que aquela linha não termina ali. É o retrato de um momento, mas no mês seguinte lá estará ela de novo indicando um novo cenário, que, já se sabe, tem tudo para ser diferente.
Dezembro de 2008 será, então, um marco na nossa história econômica: o mês em que o Brasil soluçou. O mês em que o medo, acima de qualquer dado real, fez silenciar linhas de produção enquanto empresários e executivos tentavam vislumbrar qual caminho seguir. Como a gestão nas empresas é feita com base em previsões de futuras vendas - e não havia vidente capaz de indicar sequer uma tendência -, muitos administradores renderam-se ao pessimismo e pararam as máquinas. Assim, a percepção (importada de outros centros em que a crise é bem mais grave) de que a recessão seria inevitável empurrou nossos índices econômicos para baixo. Tivessem se fixado em dados de mais longo prazo veriam que, a despeito de perder velocidade nos últimos meses do ano, 2008 foi um ano de resultados excepcionais. As indústrias fecharam com crescimentos de produção expressivos em todas as regiões do País, com destaque para o Paraná (8,6%), Goiás (8,5%), Espírito Santo e Pará (ambos com 5,6%) e São Paulo (5,3%).
Na China, estudo do Credit Suisse aponta que, depois de cair, a atividade industrial já está em recuperação. O mesmo gráfico em V poderá ser visto no Brasil em breve.
Quando os números de janeiro chegarem e um novo gráfico for desenhado ficarão lá representadas informações que, divulgadas isoladamente na semana passada, infelizmente foram ofuscadas pelo mau humor reinante. Reação na venda de veículos, aumento nas compras de aço e crescimento no uso de energia pelas indústrias... Vários indicadores utilizados como termômetros da atividade na economia já apontavam para a retomada do bom caminho econômico. A linha que desabava em queda livre ricocheteará para cima, após bater no que pode ter sido o fundo do poço. Vamos ladeira acima novamente - sim, para cima o ritmo é sempre mais lento.
Forma-se, assim, a figura de um V no gráfico do crescimento. É o desenho que economistas do mundo todo sonham em ver atualmente. Há uma torcida global por descobrir onde é o fundo do poço de cada um, dos Estados Unidos, da Europa, do Japão, etc... Analistas do banco Credit Suisse, por exemplo, divulgaram relatório na semana passada afirmando que a China, uma das locomotivas da economia mundial, já interrompeu o movimento de descida e também já acelera seus motores morro acima. Acompanha o relatório um gráfico mostrando o desempenho de uma série de indicadores - produção industrial, nível de emprego, encomendas do varejo, preços de matérias-primas e até empréstimos bancários - no país. Lá, como cá, as linhas, a partir do quarto trimestre de 2008, apontavam para baixo. Janeiro, por sua vez, fez o V surgir na tela. Para os analistas é o V da virada.
Isto É
Dinheiro
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
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