sábado, 28 de fevereiro de 2009

O Brasil está na rota dos espanhóis

Mercado Imobiliário

São Paulo, 26 de Fevereiro de 2009 - A Veremonte Participações, holding liderada pelo investidor espanhol Enrique Bañuelos, comunicou, na última quinta-feira, a aquisição de 62,13% do controle da incorporadora imobiliária Abyara. "A Veremonte não é um fundo. Não pretende captar recursos aqui no País, nem vender cotas. A ideia é canalizar investimentos estrangeiros para o Brasil, principalmente de Londres, Espanha e do Oriente Médio, entre eles, Dubai", afirma Marcelo Paracchini, presidente da Veremonte. Ele acrescenta que a empresa não pretende participar do dia-a-dia das companhias em que tem participação. "Por exemplo, na compra da participação na Agra [eles têm 6,6%], nós participamos da aquisição, mas hoje a gente não está no management nem no conselho dela", explica.

O aporte, a ser feito, chega a R$ 100 milhões. Sob a nova gestão, o nível de endividamento da Abyara passa de 124% para 52% em relação ao seu patrimônio líquido. Hoje a companhia possui uma carteira de recebíveis de R$ 1,2 bilhão.

O primeiro alvo da Veremonte foi o mercado imobiliário brasileiro, porque é o setor em que Enrique Bañuelos tem a maior expertise. Segundo Paracchini, Bañuelos possui uma série de investimentos em diversos países, como Estados Unidos, Espanha e conhece bastante a Rússia, e por isso mesmo tem muito conhecimento para investir no Brasil. O presidente da Veremonte revela que está de olho em oportunidades em infraestrutura, energia, alimentos e bens de consumo no País. "São setores que dependem apenas do mercado doméstico", explica.

"Não houve subprime no Brasil, o que houve foi uma certa bolha de IPOs de empresas no mercado doméstico", afirma. Portanto, o País pode sair bem da crise. "Nos Estados Unidos, as pessoas têm tudo - carro, casa e todos os tipos de bens de consumo - e em tempos de crise, elas não consomem. No Brasil, por necessidade e pela cultura aspiracional, as pessoas querem comprar. É um mercado enorme, de 200 milhões de habitantes, com crescimento demográfico e de renda."

Costa do Sauípe

O primeiro investimento no Brasil poderia ter sido outro: na Costa do Sauípe. "Disseram que a gente tinha desistido de comprar a Costa do Sauípe no dia da assinatura dos papéis. Na verdade, podia ter acontecido isso, não tem problema algum. Mas não foi assim." Paracchini conta que a Veremonte desistiu três semanas antes do negócio. Um escritório de advocacia fez uma "due diligence" - análise legal dos papéis - e a partir disso viram que não dava para fechar negócio naquele momento.

"Continuamos interessados e espero que os pontos que foram levantados durante a due diligence sejam trabalhados e que a gente consiga fechar o negócio em breve." Mas ele adianta que não estão em negociação no momento. Na época, o valor da operação girava em torno de R$ 170 milhões, preço que deve ser reajustado para baixo, uma vez que todos os ativos, segundo ele, sofreram depreciação. Confira abaixo os principais trechos da entrevista.

Gazeta Mercantil - Por que decidiram pela compra da Abyara e não de outra empresa?

Da metade do ano para o fim de 2008, nós procuramos vários players e decidimos fazer investimentos na Agra - hoje temos participação de 6,6%. Essa participação gerou uma aproximação com o management da empresa. Nós gostamos muito do modelo de negócios e da seriedade. Quando eles nos apresentaram o caso da Abyara, nos sentimos muito confortáveis em comprá-la, porque sabíamos que eles conheciam muito bem a companhia. A Abyara é uma empresa que estava com problemas de liquidez seriíssimos e os bancos ajudaram bastante. A gente conseguiu restruturar a dívida e por isso temos agora uma nova companhia. A companhia que nos foi vendida não é a mesma que existe agora. Gastos de pessoal, por exemplo, foram reduzidos enormemente: passaram de 450 funcionários - porque a empresa esperava um crescimento que não ocorreu - para 150. O endividamento bancário, de curto prazo, até 2009/2010, era de R$ 430 milhões, deste total, R$ 300 milhões já estavam vencendo. A Abyara, como uma empresa do setor imobiliário, é uma das melhores do mercado. Por ela ter tido DNA de brooker e ter trabalhado para diversos incorporadores, aprendeu o que é certo e é capaz de antecipar tendências. O problema dela era financeiro. A empresa se alavancou muito esperando um crescimento que não aconteceu. Fez um IPO de R$ 200 milhões e comprou quase R$ 1 bilhão em terrenos. Além disso, a Abyara achou que os mercados de crédito e de capitais ficariam abertos para sempre, e eles se fecharam.

Gazeta Mercantil - Qual foi a solução financeira encontrada?

Sentamos com os bancos e negociamos a dívida. Uma parte foi feita em ações de terrenos, outra em projetos e também houve alongamento da dívida. Então a enorme necessidade de caixa que a gente tinha para este ano foi postergada por três anos. A partir daí, faremos pagamentos semestrais por três anos. Isso deu folga de caixa para a companhia, que vai deixá-la numa situação muito confortável.

Gazeta Mercantil - Qual é a posição do Brasil frente a outros mercados durante a crise?

Antes da crise, o Brasil competia com todos os outros mercados. Hoje não há tanta competição. Para o investidor ocidental, principalmente europeu e americano, a comparação com os outros países do grupo Bric - Brasil, Rússia, Índia e China -, o País sai na frente, por causa da cultura ocidentalizada, solidez no sistema financeiro e no marco regulatório, além de um sistema político estável. Antes já existia o segmento em que a gente trabalha hoje? Sim, até porque tinha mais dinheiro para investir. Hoje há menos competição. Mesmo com a crise, ainda há muitos empresários capitalizados que estão procurando onde investir.

Gazeta Mercantil - Com a compra, como fica a participação dos minoritários?

A ideia do tag along é que, quando houver compra do controle, o minoritário não seja prejudicado e que receba o mesmo tratamento dos controladores. Até hoje não houve nenhum desembolso para os controladores, porque o nosso acordo foi pagar R$ 1,20 por ação e temos cinco anos para pagar. Hoje [ontem] a ação está valendo R$ 2,04. Mas é a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que vai decidir o que a gente deve fazer, se faz uma OPA (Oferta Pública de Aquisição) ou não. Outra coisa, a gente não vai desembolsar agora se podemos fazer isso só daqui a cinco anos. Até lá, as ações para os minoritários saem por R$ 0,80, por causa dos 15% de reajuste, sendo que hoje está R$ 2,04. Mas aí é que está. O minoritário ficou na empresa até agora deve continuar. A gente calcula que a rentabilidade de um empresa de real estate seja 0,8% do valor da ação. Hoje ela vale R$ 6 e a gente espera que elas cheguem a R$ 4,80.

Gazeta Mercantil - E o que significa a cláusula de desistência?

É um mecanismo legal, mas que a gente acha que não vai utilizar. Até porque ela perde a validade se fizermos distribuição de dividendos, o que eu espero que vá ocorrer dentro de cinco anos.

(Gazeta Mercantil/Relatorio - Pág. 1)(Natália Flach)

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