quarta-feira, 29 de abril de 2009

Não cortem os pulsos

Por Maurício Lima | 24/04/2009 - 11:07

Nos últimos dias, a leitura dos jornais e da internet tem provocado náuseas mesmo nos estômagos mais resistentes. Em um dia, deputados levam parentes e aproveitadores para passear com dinheiro público. No outro, a baixaria grassa no Supremo Tribunal Federal. Tudo isso, somado às agruras naturais do dia-a-dia, acaba transmitindo uma sensação de desesperança, uma ideia de que a política não serve para nada, de que o país não sai do lugar. Além de ser um sentimento perigoso, que abre caminho para soluções populistas e daninhas, trata-se de uma impressão falsa.

Ok, o nível da política nacional não é mesmo dos melhores. Os Sarneys e Renans ainda estão por aí e, levando-se em consideração apenas a capacidade intelectual de determinados deputados e suas práticas, talvez a média de nossos parlamentares tenha até piorado ao longo dos anos. Roberto Campos, infelizmente, já se foi. Fazem falta também o ex-deputado Ulysses Guimarães e o ex-senador Darcy Ribeiro. Mas olhado de um outro ângulo, o das instituições e o do desenvolvimento, é possível achar alguns bons motivos para otimismo.

Em 2010, o Brasil vai para a sua sexta eleição direta para presidente da República desde o fim da ditadura militar. Será o período mais longo de normalidade democrática na história do país. Na área econômica, importantes conquistas aconteceram nos últimos anos. A inflação foi controlada e o país aumentou de importância no comércio internacional. Existe atualmente pelo menos uma dúzia de grandes empresas brasileiras bem-sucedidas no exterior. No passado, as publicações estrangeiras contavam histórias sobre as aventuras carnavalescas de nossos presidentes. Hoje, dizem que o Brasil é o mais arrumadinho dos BRICs.

Escândalos vão continuar, mas eles não podem servir de desestímulo. Dessa história toda na Câmara, certamente sairão regras que dificultarão a vida dos deputados que querem farrear com o dinheiro público. Do bate-boca no Supremo sairá uma convivência mais respeitosa entre os que pensam diferente. Outros problemas vão aparecer, mas na história de um país é preciso olhar o que os americanos chamam de "big picture" (a questão maior, o cenário mais a longo prazo). Nesse, o Brasil vem avançando.

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