terça-feira, 21 de julho de 2009

Caixa vai reduzir em 40% o preço do seguro habitacional

Valor Econômico, Denise Bueno, 21/jul

A Caixa Seguros cedeu às pressões do governo e vai baixar, em média, 40% o preço do seguro habitacional a partir de agosto, informou Thierry Claudon, presidente da seguradora, que detém 70% das vendas desse seguro. Esse tipo de apólice cobre a dívida do mutuário em caso de morte ou invalidez e também danos causados ao imóvel durante o período do financiamento.

O presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva tomou conhecimento do peso do seguro durante esforços para baixar o custo do financiamento do programa habitacional "Minha Casa Minha Vida", lançado em abril, com investimentos orçados em R$34 bilhões, para a construção de 1 milhão de moradias para a população com renda de até dez salários mínimos.

Neste programa, o governo irá subsidiar o seguro até que iniciativas sejam tomadas pelo setor. Em discurso durante almoço com seguradores, em maio deste ano, Lula disse que precisa do apoio das seguradoras para desenvolver o setor imobiliário, sendo o seguro um instrumento para facilitar e reduzir o custo dos financiamentos habitacionais.

A redução do preço pela Caixa veio mesmo antes de a nova regulamentação, a cargo do Conselho Monetário Nacional (CMN) e do Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP), ter sido publicada. O objetivo das normas, previstas para serem divulgadas em agosto, é aumentar a concorrência entre as seguradoras e beneficiar o mutuário com a redução do preço da apólice. As regras desenhadas pelo CMN e pelo CNSP valem para os financiamentos feitos pelo Sistema Financeiro habitacional (SFH), Sistema Financeiro Imobiliário (SFI) e Sistema Hipotecário (SH).

Para tornar a concorrência ainda mais acirrada, a Superintendência de Seguros Privados (Susep) prepara uma resolução na qual permitirá que as seguradoras de vida também possam vender o seguro habitacional, até hoje restrito às companhias de seguros patrimoniais. Atualmente, este seguro é vendido quase que exclusivamente por seguradoras de bancos.

Segundo Claudon, de 2006 até agosto deste ano, a redução do preço do seguro habitacional na Caixa totalizou 68%. Ele explica que o crescimento da concessão do crédito imobiliário é o principal responsável pela queda do preço. A Caixa realizou no primeiro trimestre deste ano R$7 bilhões em financiamentos imobiliários, crescimento de 119% sobre o mesmo período do ano passado. De 2004 até 2008 o volume saltou de R$4,1 bilhões para R$20 bilhões. Em volume de contratos, a carteira do banco oficial saltou de 256.650 para 379.870 no mesmo período.

Segundo o banco oficial, a meta inicial era aplicar R$27 bilhões em financiamento habitacional em 2009. Porém, com a instituição do novo pacote habitacional do governo federal, o "Minha Casa, Minha Vida", a previsão é que esse volume cresça em R$15 bilhões. "Com o boom imobiliário, a carteira habitacional se oxigenou com a entrada de pessoas mais jovens. Como este novo público tem uma taxa de risco menor do que as pessoas mais velhas, o preço médio do seguro tende a cair", explica.

O fato é que a Medida Provisória 459, editada em março, acabou com a venda casada do seguro habitacional entre os bancos que concedem o crédito. Agora eles não podem mais ofertar apenas o seguro da seguradora do grupo. Têm de ofertar até cinco opções aos clientes. Desta forma, o acordo de exclusividade entre a Caixa Econômica Federal e a Caixa Seguros foi automaticamente extinto, assim como nos demais bancos.

As mudanças introduzidas pelo governo vieram num momento oportuno. A abertura do resseguro no Brasil e a crise internacional que trouxe perdas recordes para as seguradoras americanas, europeias e japonesas tornaram o Brasil um porto seguro para as seguradoras estrangeiras. Aliado a isso, as seguradoras brasileiras precisam de escala para compensar a queda do ganho financeiro, que vinha até então sendo a principal fonte de lucro das companhias.

Este cenário fez a Caixa Seguros mudar sua estratégia. Desde que assumiu o controle da seguradora, em 2001, o grupo francês CNP vende seus produtos exclusivamente para os clientes da Caixa Econômica Federal. A Caixa, que opera com quatro empresas na área de seguridade - bens patrimoniais, vida e previdência, consórcio e capitalização -, prepara um novo ciclo de expansão. "Nosso grande desafio agora é ofertar nossos produtos para todos os brasileiros", diz Thierry Claudon.

Esta estratégia foi adotada nos últimos anos por Bradesco e Itaú e mais recentemente pelo Banco do Brasil, agregando corretores independentes e canais alternativos de vendas, como lojas de varejo, à lista de canais de distribuição para atender também a não correntistas.

As seguradoras independentes, sem um canal bancário de distribuição, já se movimentam para disputar este mercado. Entre elas temos Chubb, Allianz, Mapfre e Liberty. Todas aguardam a divulgação das normas para que possam definir produtos e serviços e assim iniciar negociações de parceria com bancos para que suas apólices façam parte das opções a serem ofertadas aos candidatos ao financiamento imobiliário.

"Para o banco, o que interessa é oferecer um financiamento mais barato e o seguro tem um peso neste custo. Se o seguro de uma seguradora independente for menor do que o praticado pela seguradora do banco, melhor para o mutuário e para o banco, que conquistará um cliente de longo prazo", diz Arlindo Simões, diretor da Allianz Brasil, subsidiária da maior seguradora da Europa.

Segundo Antonio Cássio dos Santos, presidente da Mapfre, a ideia do grupo é fazer parceria com bancos que operam com crédito imobiliário. "Temos o produto na prateleira, porém com vendas insignificantes. Com a nova regulamentação, certamente ele se tornará importante dentro do mix da companhia." A mesma opinião tem Acácio Queiroz, presidente da Chubb. "O setor imobiliário é um dos mais beneficiados no Brasil e tem trazido boas oportunidades para as seguradoras. Já estamos nos preparando para ser uma das opções dos candidatos à compra da casa própria prestando um serviço diferenciado."

As seguradoras de bancos também se movimentam para não perder este rentável negócio. Ricardo Saad Affonso, diretor-presidente da Bradesco Auto/RE, diz que a seguradora já está reformulando seu produto. "Após a regulamentação por parte do CNSP, poderemos concluir os estudos e oferecer novos produtos ao mercado. Não cabe à Bradesco Auto/RE realizar acordos com outras seguradoras para oferecer produtos aos tomadores de crédito imobiliário. O usuário terá livre escolha para optar", diz.

Faturamento do setor em 2008 foi de R$717 mi

A Caixa Seguros foi responsável por R$516 milhões do faturamento total de R$717,6 milhões deste segmento em 2008. Bradesco vendeu R$26 milhões em seguro habitacional, segundo a Susep. Itaú Unibanco registraram prêmios de R$53 milhões (R$35,8 milhões e R$17,2 milhões, respectivamente); e Santander, R$44,9 milhões, considerando-se os R$14,5 milhões do banco espanhol e R$30,4 milhões arrecadados pela Tokio Marine nas agências do ABN AMRO, incorporado em julho de 2008.

Poucos seguros oferecem a margem de rentabilidade do seguro habitacional. Geralmente, o volume de indenizações representa algo próximo de 60% dos prêmios arrecadados pelas seguradoras. Em saúde e automóvel este percentual é mais elevado, chegando a 80%. Este é o principal peso do índice que mede a eficiência das seguradoras, conhecido como índice combinado. A ele se juntam as despesas com a administração da carteira e as despesas com a venda do produto. Quanto mais abaixo de 100% a somatória destes índices, mais rentável para o acionista. Se a soma ultrapassar os 100% e a receita financeira obtida com a aplicação dos prêmios no mercado financeiro não for suficiente para cobrir o excedente, o acionista terá de colocar dinheiro do bolso para continuar com a operação.

O que realmente não é o caso do seguro habitacional. As indenizações totalizaram R$228,2 milhões em 2008, o que representa, em média, 33% dos prêmios totais de R$717 milhões. A despesa comercial ficou com R$22,8 milhões e as despesas administrativas estão diluídas nas contas gerais das companhias. Ou seja, restaram R$460 milhões de lucro, sem considerar o ganho financeiro dos prêmios aplicados no mercado financeiro durante o período em que não foram usados para pagar as indenizações. Uma mina de ouro, costumam dizer os analistas.

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