quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Ações de construtoras caem forte apesar da queda dos juros
22.01.2009 12h26
Agência de classificação de risco Fitch reduz rating das principais empresas
Portal EXAME

A agência Fitch reduziu o rating (nota de risco) de quatro incorporadoras brasileiras: Cyrela, Even, Gafisa e Trisul. Além disso, a Fitch avisou que as notas continuam com perspectiva negativa - ou seja, podem voltar a cair nos próximos meses.

A decisão fez com que as ações das construtoras estivessem entre as maiores baixas do Ibovespa nesta manhã apesar de a taxa básica de juros (Selic) ter sido cortada pelo Banco Central em 1 ponto percentual nesta quarta-feira, para 12,75% ao ano. Às 11h57, as ações ordinárias da Cyrela (CYRE3) caíam 4,10%, as da Gafisa (GFSA3) perdiam 2,99% e os papéis da Rossi (RSID3) tinham perda de 4,73%.

A Fitch justificou os rebaixamentos com as alterações nos fundamentos do setor e a expectativa de que as construtoras brasileiras enfrentarão um ambiente operacional desafiador e pressões financeiras em 2009 e 2010. A Fitch espera uma desaceleração da economia, acesso limitado ao crédito imobiliário, custos mais altos de financiamento, enfraquecimento da demanda e da confiança dos consumidores, redução de renda e maiores taxas de desemprego.

As notas também poderão ser afetadas em caso de retração econômica prolongada, que inclui a escassez de fontes de financiamento de longo prazo necessárias ao financiamento desse rápido crescimento de negócios. A lucratividade e a geração de caixa operacional das construtoras poderão ser significativamente impactadas por fatores ligados aos negócios e macroeconômicos, desafiando a administração das finanças e da liquidez.

A Fitch espera novas reduções na liquidez do setor de construção habitacional brasileiro, na medida em que será necessário despender caixa para cobrir os custos de construção. A disponibilidade de crédito se reduziu nos mercados nacional e internacional, levando à considerável redução da exposição a risco de financiamento pelos bancos brasileiros, que buscam preservar o capital. Consequentemente, os custos de captação aumentaram e os prazos encurtaram.

A limitada disponibilidade de linhas de crédito no mercado local continuará pressionando a liquidez das construtoras e incorporadoras imobiliárias no Brasil, em especial aquelas com estrutura de capital menos robusta e escala menos representativa. A maioria das construtoras gerou fluxo de caixa livre negativo em 2007 e 2008, devido ao maior volume de projetos em andamento.

A expectativa da Fitch é de que elas continuarão reportando fluxos negativos em 2009. A expectativa da Fitch é de que a lucratividade permaneça pressionada em 2009. A expansão da oferta e a propensão à aquisição de novos imóveis, observadas nos últimos dois anos, sofreram queda recentemente. Devido aos menores volumes de lançamentos, a expectativa da Fitch é de decréscimo na geração de caixa e nas margens, assim como de aumento no nível de estoque.

Além disso, possíveis descontos nos preços de venda dos imóveis afetariam a rentabilidade. Com a significativa escassez de linhas de crédito, as empresas atualmente usam caixa para cobrir custos de construção, propaganda e operações. Com ofertas iniciais de ações desde 2006, as empresas do setor captaram 14 bilhões de reais, o que é suficiente para o suporte do financiamento dos projetos em curso. Além disso, algumas construtoras foram recentemente beneficiadas por novos financiamentos de médio prazo, novos aportes de capital ou alterações no controle acionário.

As construtoras também responderam adequadamente à atual situação reduzindo drasticamente os planos de crescimento, com o objetivo de preservar a liquidez. A maior parte adiou os lançamentos de projetos, reduziu as metas de novos projetos e postergou muitos outros até que haja uma definição clara sobre a disponibilidade de crédito e a demanda imobiliária. As metas de lançamentos de projetos das construtoras analisadas pela Fitch, anunciadas no início de 2008 e no último trimestre de 2008, declinaram 22%.

Além da redução nos lançamentos de projetos, as empresas têm adotado várias medidas para preservar a liquidez, como redução dos custos operacionais e do quadro de funcionários, e têm evitado usar caixa na compra de terrenos. A Fitch espera que elas continuem adotando medidas de proteção à liquidez, em virtude do ambiente sujeito a apertos de crédito e das altas necessidades de caixa, típicas do segmento.

A consolidação do setor imobiliário brasileiro é uma possibilidade real desde que a retração continue. Durante o segundo semestre de 2008, várias alterações de estrutura acionária ocorreram, incluindo a aquisição da Tenda pela Gafisa e a fusão entre a Company e a Brascan. A linha de crédito do BNDES anunciada no trimestre passado, totalizando 3 bilhões de reais, destina fundos para a aquisição de projetos de empresas em dificuldades e deve favorecer a consolidação do setor em benefício das maiores e mais bem estabelecidas construtoras brasileiras, o que é positivo para a indústria imobiliária.

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