sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Dinheiro, surfe e futebol| 22/01/2009
Como dois empreendedores de Santa Catarina se transformaram em parceiros da Visa, a maior empresa de cartões de crédito do mundo, em um projeto de venda de ingressos para jogos de futebol.

Por Denise Carvalho

O paranaense Robson Carlo Mello de Oliveira cresceu vendo seu pai, Rubens Sampaio, jogar como meio-campista em vários times de futebol. Rubens era considerado um jogador habilidoso, defendeu nos gramados as cores do Internacional de Porto Alegre e chegou a desenvolver carreira internacional no Canadá. Seu filho, não. Oliveira primeiro virou surfista, depois começou a lutar jiu-jítsu. Por último, resolveu se aventurar na área de desenvolvimento de sistemas e tecnologia para a internet, na qual fez carreira anônima em Santa Catarina e sofreu na pele as consequências do estouro da bolha, no início dos anos 2000. "Até que, numa madrugada de 2003, acordei com a ideia que mudaria minha vida", diz Oliveira. "Um sistema que permitisse aos torcedores ir ao estádio sem enfrentar filas monumentais, cambistas e confusão." A ideia foi o ponto de partida para um negócio desenvolvido com seu sócio, o catarinense Rodrigo Koerich Calomeno - e que depois ganharia a parceria da Visa, a maior empresa de cartões de crédito do mundo. O PassFirst, como foi batizado o sistema, gira em torno do cartão de crédito. Por meio dele, o usuário compra os ingressos pela internet e entra no estádio - o cartão é passado em uma catraca especial e libera o acesso.

Desde que foi criado, há cerca de um ano, o PassFirst atraiu 128 000 usuários e está disponível em oito estádios brasileiros, com uma oferta de aproximadamente 71 000 lugares. Uma das principais vitrines do programa é o Parque Antarctica, estádio do Palmeiras, em São Paulo. Lá a Visa mantém uma área reservada de 5 000 lugares com entrada independente, lounge e banheiros que lembram os de shopping centers paulistanos. Recentemente, o PassFirst chegou ao estádio do Morumbi, onde já estão reservados 20 000 lugares com estrutura de apoio semelhante. Em maio, o programa abre mais 15 000. Há três meses, a revista americana de negócios Forbes apontou o sistema como uma das maiores inovações da Visa do Brasil. Em julho de 2008, o sistema já havia chamado a atenção da matriz ao ser exposto em uma reunião, destinada a discutir inovações, realizada na sede da empresa, na cidade de São Francisco, na Califórnia. "Depois da experiência aqui, esse produto pode ser levado a qualquer lugar do mundo", afirma Rubén Osta, diretor-geral da Visa do Brasil. Atualmente, a empresa negocia com a Fifa os primeiros testes do programa em disputas internacionais, como o campeonato sub-20 de futebol feminino no Egito e o Mundial de Interclubes nos Emirados Árabes, que acontecem no segundo semestre deste ano.

Para que o PassFirst chegasse a esse ponto, Oliveira e Calomeno precisaram de cinco anos de trabalho e obstinação. A primeira dificuldade foi transformar uma ideia em produto - e encontrar um parceiro com cacife suficiente para financiar a empreitada. Os dois empreendedores bateram então à porta de quatro bancos - Itaú, Unibanco, Bradesco e HSBC. Não conseguiram nada além da recomendação de criar um projeto piloto, de preferência com um time de futebol. Procuraram então o Figueirense de Florianópolis e, junto com o clube, montaram um sistema de cartões de fidelidade, com chip embutido no plástico e catracas especiais de acesso. Mas a escala necessária ao sucesso do projeto só viria, perceberam Oliveira e Calomeno, com a associação com uma empresa de cartões de crédito. A primeira companhia procurada, a Mastercard, não se interessou pelo projeto. "Enviamos também um e-mail para o diretor de produtos da Visa, explicando a ideia. A reunião foi agendada para uma semana depois", diz Oliveira. A Visa decidiu, então, participar do desenvolvimento do sistema de vendas online de ingressos e da tecnologia que permitisse a utilização do cartão de crédito nas catracas dos estádios. "A grande preocupação da empresa era a segurança das informações do cartão", diz Calomeno. Em setembro de 2007, três anos depois do primeiro encontro com os executivos da Visa, o PassFirst finalmente foi inaugurado, no Parque Antarctica.

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