terça-feira, 23 de junho de 2009

Bañuelos define estratégia para o Brasil
Luiz Horst, presidente da Agra, responsável por toda a gestão: foco de atuação específico para Abyara, Agra e Klabin

Valor Econômico - 04/06

O nome é ambicioso. A proposta idem. Amazon Group Real Estate (Agre) foi a marca escolhida para batizar o grupo de empresas que reúne Agra, Abyara e Klabin Segall. Mais do que isso: a Agre é a materialização do ousado plano do megainvestidor espanhol Enrique Bañuelos, que chegou ao Brasil no auge da crise e gastou muito pouco - exatos R$ 143 milhões - para levar duas empresas extremamente endividadas. Se conseguir resolver todas as pendências financeiras, terá nas mãos três companhias que, juntas, venderam R$3,2 bilhões no ano passado, mais do que a líder Cyrela.

Parte das pendências com os credores começa a ser equacionada. Depois de mais de quatro meses do anúncio da aquisição pela Veremonte e Agra, a Abyara concluiu a renegociação da dívida com os bancos e, por conta disso, fará o prometido aumento de capital de R$ 100 milhões e uma oferta pública de ações - para que os minoritários acompanhem ou não - na próxima semana. A empresa entregou terrenos e projetos aos bancos e conseguiu reduzir a dívida de R$ 430 milhões para R$ 180 milhões com prazo de carência de três anos para o pagamento. Desses R$ 100 milhões que já haviam sido anunciados, R$ 50 milhões já foram adiantados.

Resta agora conseguir renegociar com os debenturistas da Klabin Segall. Dona de uma dívida de R$ 637 milhões, as debêntures representam 70% (R$ 461,8 milhões) e com valor superior ao patrimônio líquido, de R$ 348 milhões. Antes da aquisição pelo grupo, a Klabin Segall já havia adiado o pagamento dos juros dos títulos por 60 dias e foi rebaixada pela Standard & Poor's a uma classificação usada somente para empresas em default, mas a agência de classificação de risco revisou a nota, depois do anúncio da renegociação.

Os novos controladores - Agra e Veremonte - propõem o alongamento do prazo das debêntures: com o pagamento do principal e juros deste ano no ano que vem. Foram duas emissões com cerca de 12 debenturistas cada: a primeira é composta por "assets" e fundações e a segunda, bancos. "Esperamos conseguir renegociar nas próximas duas semanas", afirma Marcelo Parachini, representante de Bañuelos e executivo da Veremonte, mas adiaram o pagamento de juros por mais um mês, segundo o Valor apurou. O acerto com os debenturistas é fundamental para que não só o aporte de R$90 milhões na Klabin Segall aconteça, mas principalmente para que o modelo de negócios integrado das três companhias seja, de fato, uma realidade. O prazo máximo é 15 de julho, sob pena de cancelamento do negócio.

A similaridade entre o nome Agre e Agra não é por acaso. Por trás da sigla de brasilidade, há a real conotação do negócio. Quem manda é a Agra. Mais especificamente Horst, o Beto, como é conhecido no mercado, um dos fundadores da Agra - empresário de 45 anos e herdeiro do grupo de saúde Samcil que decidiu tocar a vida em outro setor. Enrique Bañuelos, dono de uma carreira controversa no mercado imobiliário espanhol, prefere não aparecer. Escolheu Beto como parceiro no Brasil e porta-voz do grupo. O discurso é uníssono: o que prevalece nas três companhias é o modelo de gestão da Agra.

Na Abyara, quem assumiu desde o início foi Astério Safatle, fundador da Agra ao lado de Horst. Faltava assumir o comando da Klabin. Não falta mais. Fernando Albuquerque, vice-presidente da Agra, será o novo presidente da Klabin. O antigo controlador Sérgio Segall permanece no negócio, mas perdeu a principal cadeira.

Enrique Bañuelos e a sua Veremonte trabalham de uma maneira, no mínimo, peculiar. Embora sejam controladores das empresas que adquiriram - a Veremonte entrou com 70% e a Agra, 30% tanto em Abyara, quanto Klabin Segall - e, portanto, coloquem a maior parte do capital, não indicam ninguém no dia-a-dia das suas controladas. Nem mesmo pleiteiam um assento no Conselho de Administração. "Não colocamos ninguém porque acreditamos na gestão deste senhor", afirma Paracchini apontando para Horst. "Nós o escolhemos como nosso sócio local", completa.

Horst, presidente da Agra e mentor do novo negócio ao lado de Bañuelos, tem os números das duas outras empresas na ponta da língua. Entrou no negócio com o espanhol depois de viajar para Nova York, onde Bañuelos tem negócios, e à Valência, onde conheceu a família do executivo. "O mercado imobiliário espanhol desabou e o apontaram como culpado, mas não há ações judiciais ou trabalhistas contra ele", diz. "Não colocaria a minha reputação em jogo se não acreditasse nele", afirma. Bañuelos foi obrigado a sair da empresa que ele próprio fundou, a Astroc, depois de denúncias de operações que inflaram os papéis da companhia e responde a uma ação movida por 50 minoritários.

Embora ainda tenha que enfrentar os debenturistas da Klabin, o modelo de negócios está todo desenhado e já começa a ser colocado em prática. Não haverá uma fusão entre as três companhias - cada empresa segue separada, com ações em bolsa - nem formalmente há a criação de uma holding, mas os novos sócios garantem que muita coisa já começa a mudar nas empresas. "Empresa que se tem que sanear, não se pode esperar nem um dia", diz Horst.

Foi feita uma divisão regional e uma divisão de atuação entre as três incorporadoras. Todas seguem em São Paulo, mas a Agra fica mais focada no Norte e Nordeste, a Klabin no Rio e, a Abyara, no sul do Brasil. Da mesma forma, as três continuam atuando no segmento residencial de médio e alto padrão, porém Agra (através da empresa Asa) fica com baixa renda, Abyara fica com hotelaria, turismo e entretenimento, e Klabin Segall se especializa em escritórios corporativos, salas comerciais e até shoppings - área em que nenhuma delas atuou. "Já temos parceiros internacionais para hotelaria, escritórios corporativos e entretenimento", diz Parachini. A ideia é que os sócios entrem como investidores nas Sociedades de Propósito Específicos (SPE´s), empresas constituídas para cada empreendimento.

Além de aproveitar as sinergias nas áreas administrativas, o objetivo é criar unidades de negócios que atendam a todo o grupo e a empresas de fora. Haverá uma construtora (que nasce da Setin, comprada pela Klabin Segall), uma gerenciadora de projetos e uma empresa própria de vendas. "Isso tudo leva de seis a doze meses para se concretizar", afirma Horst. O grupo diz que não pretende mais fazer aquisições. "A plataforma está com o tamanho ideal", diz Paracchini. Quando chegou ao Brasil, o objetivo de Bañuelos era unir seis empresas do setor. Parou na metade.

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