terça-feira, 9 de junho de 2009

"Os chineses não estão preocupados com o Brasil"
O ex-embaixador Rubens Barbosa diz que o governo Lula comete o erro de superestimar o peso do país no cenário internacional

Revista EXAME - Por Tatiana Gianini | 28.05.2009 | 00h01

Recentemente, o presidente Lula esteve em visita oficial à China, que desbancou em abril os Estados Unidos como o maior parceiro comercial do Brasil. O ex-embaixador Rubens Barbosa fala sobre o significado dessa mudança e dos resultados da missão diplomática.

1) Qual a importância de a China ter desbancado os Estados Unidos como nosso maior parceiro comercial?
Num momento em que a expectativa é que as exportações brasileiras caiam mais de 20% em 2009, a China ganha cada vez mais importância. Esse país está comprando do Brasil e o nosso comércio deu um salto em razão disso.

2) A posição da China, à frente dos Estados Unidos, é um fenômeno ocasional?
É circunstancial. A China vem ampliando as compras do Brasil, é verdade, mas os Estados Unidos devem retomar o topo da lista de nossos principais parceiros comerciais assim que sua economia iniciar a recuperação.

3) O que é mais importante hoje: o Brasil para a China ou a China para o Brasil?
É bom que os chineses queiram comprar nossos produtos, mas sabe quanto isso representa para eles? Zero ponto qualquer coisa. O Brasil tem a mania de achar que todo mundo está pensando nele, mas a verdade é que ninguém está pensando. Os chineses não estão preocupados com o Brasil. Nós é que deveríamos estar preocupados, pensando em formas de melhorar nossa posição no comércio mundial, não apenas com a China, mas também com outros países importantes.

4) O fato de o Brasil exportar matérias-primas e importar produtos manufaturados não é um problema?
Não vejo nenhum mal que o Brasil seja um grande exportador agrícola. Os Estados Unidos e a União Europeia também são. O importante é também ser um grande exportador de produtos manufaturados.

5) O valor das exportações brasileiras para a China oscila muito ao sabor das cotações das matérias-primas. Num cenário de instabilidade, como o atual, é possível manter o crescimento?
Quando a China retomar um ritmo de crescimento maior, os preços das principais matérias-primas vão subir novamente, beneficiando as exportações brasileiras. Não podemos ficar esperando isso ocorrer. Temos de buscar novos mercados.

6) Na recente missão do presidente Lula à China, a diplomacia brasileira falhou em abrir novos mercados. Fomos incompetentes na negociação ou é difícil fazer acordos com os chineses?
Nunca devemos esperar resultados imediatos, sobretudo na relação com a China, cujo governo tem uma política de médio e longo prazo. Se interessar à China importar do Brasil, o governo de Pequim fará isso. Caso contrário, não.

7) Falta objetividade ao Brasil nessas negociações?
O Brasil gasta muita energia em questões que não são comerciais, como essa atitude ideológica de comércio Sul-Sul. Temos de ter uma estratégia que busque os mercados que forem possíveis.

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