segunda-feira, 1 de junho de 2009

Construção civil vive fase de redução geral de custos

Valor Econômico, Daniela D'Ambrosio, 01/jun

O otimismo das construtoras com o programa de habitação lançado pelo governo federal se transferiu para os fabricantes de materiais de construção. As empresas procuram soluções rápidas para atender uma demanda maior por produtos de menor preço. Para isso, alavancam suas marcas de combate e até investem no desenvolvimento de novos materiais, com custos que chegam a ser 50% mais baixos.

Para fechar grandes contratos com as construtoras - a escala é vital para compensar margens mais apertadas - as indústrias já começam a aumentar a produtividade. "Estamos implantando novos fornos para estarmos com a estrutura pronta para acompanhar a retomada do mercado", diz Marco Diehl, diretor da cerâmica Incefra. A empresa inaugurou sua terceira fábrica na Bahia há menos de um mês e iniciou nova planta em Fortaleza. Há quatro anos, ela desenvolveu um novo piso a pedido da Caixa Econômica Federal para obras do PAR (Programa de Arrendamento). Investiu R$ 15 milhões na mudança de linhas e agora está sendo procurada pelas construtoras para fornecer para o "Minha Casa, Minha Vida".

A Rodobens começa a economia pelo projeto. Diminuiu o número de paredes dos imóveis, por exemplo, e optou pelo modelo de construção industrializado. No fim, consegue uma economia total de 10% a 15%. Não é pouco para projetos voltados para famílias com renda de até 3 salários mínimos, faixa que concentra 60% dos R$ 34 milhões de subsídios do governo.

A Fabrimar criou no começo do ano uma linha para as classes C e D e vai lançar em agosto produtos ainda mais básicos. As torneiras chegam a ser até 50% mais baratas que as tradicionais. "A ideia de criar essa linha surgiu por causa do pacote do governo", admite José Fernando Caleiro, diretor comercial. Os produtos foram desenvolvidos após várias conversas com um grupo de 15 construtoras. "Para não perdermos receita com a venda de produtos muito mais baratos, na outra ponta estamos incrementando a linha de luxo", diz.

Para pintar 1 milhão de casas serão necessários cerca de 50 milhões de litros de tinta. A Suvinil, do grupo Basf, espera alavancar sua linha mais popular, a Glasurit, para vencer em um mercado pulverizado, com vários concorrentes de baixo preço.

Fabricantes correm para fornecer materiais populares

Ninguém quer perder o bonde da baixa renda. O otimismo quase exagerado das construtoras com o programa habitacional chegou ao elo anterior da cadeia e já muda os planos dos fabricantes de materiais de construção. As empresas estão trabalhando para responder, o quanto antes, à demanda das construtoras, que exigem sistemas mais eficientes e, sobretudo, baratos. Há desde fabricantes de materiais que aproveitam para alavancar as suas marcas de combate até as que investem no desenvolvimento de novos materiais com custos que chegam a ser 50% inferiores.

Para equacionar a queda da receita e as margens mais apertadas, os fabricantes procuram ganhar na escala - o objetivo é fechar grandes contratos com as construtoras. As indústrias já começam a aumentar a produtividade, como é o caso da cerâmica Incefra, para atender aos pedidos quando os empreendimentos estiverem em fase de acabamento. "Estamos implantando novos fornos para estarmos com a estrutura pronta para acompanhar a retomada do mercado de construção", afirma Marco Diehl, diretor de marketing. A Incefra inaugurou sua terceira fábrica na Bahia há menos de um mês e iniciou uma nova em Fortaleza - além de Cordeirópolis (SP).

Há quatro anos, a Incefra desenvolveu um novo piso a pedido da Caixa Econômica Federal para obras do PAR (Programa de Arrendamento). Investiu R$ 15 milhões na modificação das linhas e agora está sendo procurada pelas grandes construtoras para fornecer para o programa "Minha Casa, Minha Vida". "A Caixa queria um produto que tivesse um custo-benefício interessante, porque a má qualidade gera um custo de substituição e reposição muito alto", afirma Diehl.

O desafio é grande. As construtoras querem produtos baratos, mas não abrem mão da qualidade - até porque há especificidades e normas técnicas que precisam ser seguidas. Como conseguir isso? Deixando de lado o design, por exemplo, e fazendo produtos geometricamente mais simples e com processos de execução fabris mais baratos. "É assim que se consegue um produto econômico", diz Raul Penteado, CEO da Deca, do grupo Duratex, que faz metais e louças.

A Deca está estudando a fabricação, para o próximo ano, de produtos voltados diretamente às construtoras, embora já tenha linhas econômicas. A empresa venceu uma licitação de 3 milhões de peças para a CDHU, companhia de habitação do Estado de São Paulo. "Aumentou a necessidade das construtoras de desenvolver técnicas mais rápidas e baratas e ter um relacionamento próximo é fundamental no desenvolvimento de produtos", afirma Penteado.

A Rodobens Negócios Imobiliários, que faz casas populares em condomínios fechados no interior dos estados, começa a economia pelo projeto. Segundo Geraldo Cesta, diretor técnico, a empresa diminuiu a quantidade de paredes das casas. "Uma casa recortada ou com uma determinada fachada precisa de mais paredes internas", explica. A Rodobens escolheu o modelo de construção industrializado - no qual as paredes de concretos são erguidas sobre formas pré-moldadas e que dispensa o uso do tijolo, reboco e madeira. Por esse sistema, uma casa pode ficar pronta em 30 dias. "O processo permite uma economia total de 10% a 15%", diz Cesta. A companhia também só compra em grandes lotes e, com no máximo, 30 dias de antecedência para não ter o custo financeiro do estoque.

A MRV, que aumentou em 50% a sua projeção de vendas este ano por conta do pacote, para até R$ 2,9 bilhões, prefere a metodologia tradicional de construção. A empresa está comprando, por exemplo, blocos de menor resistência que não podem ser usados em apartamentos, mas se adequam às casas e cujo custo chega a ser 25% mais baixo, além das linhas básicas de cerâmica, louça e tinta. Também está testando um novo modelo de esquadrias de alumínio. "Construção não tem segredo: é custo por metro quadrado, é aí que tem que se conseguir a redução", diz Darnon Medeiros, gestor de suprimentos.

Cada real faz diferença nos novos projetos, especialmente para atuar no segmento de até três salários mínimos, que concentra 60% dos R$ 34 milhões de subsídios do governo. Nessa faixa, o preço é fixado conforme a região e varia de R$ 38 mil a R$ 52mil.

A Fabrimar, empresa de metais, se prepara para lançar, em agosto, uma linha econômica, totalmente voltada ao novo pacote e vendida diretamente às construtoras. As torneiras chegam a ser até 50% mais baratas que os produtos tradicionais. Os itens foram desenvolvidos depois de várias conversas com um grupo de 15 construtoras e a redução de preço foi possível por conta da queda de preço do latão (metal), que chegou a cair 20%, e do investimento de R$ 4 milhões que já vinha fazendo para concorrer com produtos chineses. A Fabrimar teve receita bruta de R$ 130 milhões em 2008 e a expectativa é crescer entre 5% e 8% este ano. "Para não perdermos receita com a venda de produtos muito mais baratos, estamos incrementando a linha de luxo, na outra ponta", diz José Fernando Caleiro, diretor.

A UBV, União Brasileira de Vidros, empresa especializada na fabricação de impressos (canelado ou chapiscado, usado na área de serviço e banheiro), fez vários testes durante seis meses e reduziu a espessura do vidro e o peso em 10% para chegar a um produto cerca de 12% mais barato. Se houver redução do gás, usado nos fornos, - a expectativa é de queda na próxima revisão tarifária - o produto pode ficar baratear mais, já que o gás representa de 25% a 30% do custo. "Vamos buscar a recuperação das vendas, que caíram 20%, com esse produto", afirma Sérgio Minerbo, presidente. A UBV teve receita líquida de R$ 75 milhões em 2008.

A indústria de alumínio espera acréscimo anual médio de 10% nos próximos três anos por conta do pacote. A construção civil consome 120 mil toneladas de alumínio por ano (12% do total) e a expectativa é de uma adição de 40 mil toneladas nesse período. Além das esquadrias, as empresas também desenvolvem as fôrmas usadas nos pré-moldados. "A indústria de alumínio teve que melhorar seu senso de urgência para atender as construtoras", diz José Noronha, diretor da Associação Brasileira da Indústria do Alumínio (Abal).

Para pintar 1 milhão de casas serão necessárias cerca de 50 milhões de litros de tinta. Em um mercado extremamente pulverizado, com várias concorrentes de baixo preço, a Suvinil, do grupo Basf, pretende alavancar a sua linha mais popular, a Glasurit.

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